O que é Compaixão?
Compaixão (do termo latino compassione) pode ser descrito como a compreensão do estado emocional de sofrimento de outra pessoa.
Significa literalmente “sofrer juntos”. Entre os pesquisadores da emoção, é definida como o sentimento que surge quando você se depara com o sofrimento do outro e se sente motivado a aliviar esse sofrimento. Por esse motivo para muitos autores a compaixão é uma “motivação” e não uma emoção.
A Compaixão se difere da empatia e do altruísmo, embora os conceitos estejam relacionados. Na empatia nos colocamos no lugar de “perceber” e acolher o sofrimento do outro mas não nos envolvemos em ações para ajudar no alívio do mesmo. No altruísmo nos colocamos no lugar de fazer algo para ajudar o outro mas nem sempre isso envolve a motivação compassiva.
Embora muitas pessoas (por questões culturais) possam descartar a compaixão considerando-a uma fragilidade ou irracionalidade, os cientistas começaram a mapear a base biológica da compaixão, sugerindo seu profundo propósito evolutivo.
Algumas pesquisas mostram que, quando sentimos compaixão, nossa frequência cardíaca diminui, secretamos ocitocina, o “hormônio do vínculo”, e regiões do cérebro ligadas à empatia, cuidados e sentimentos de prazer se acendem, o que muitas vezes resulta em nosso desejo de ajudar e cuidar de outras pessoas.
A compaixão envolve uma interação complexa entre processos cognitivos, emocionais e comportamentais
PROCESSOS COGNITIVOS: A compaixão começa com a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa e compreender sua perspectiva e experiências. Esse processo cognitivo é conhecido como “mentalização” e envolve a habilidade de inferir os pensamentos, crenças e emoções de outras pessoas. Ao desenvolver essa habilidade, podemos entender melhor as necessidades e sofrimentos dos outros, abrindo caminho para a compaixão.
A Atenção Plena desempenha um papel crucial nos processos cognitivos da compaixão. Ao estarmos conscientes do momento presente, somos capazes de nos sintonizar com as emoções e necessidades dos outros de forma mais profunda. A atenção plena nos ajuda a suspender o julgamento e cultivar uma compreensão genuína das experiências alheias.
PROCESSOS EMOCIONAIS: A compaixão é uma resposta emocional complexa que envolve empatia e preocupação genuína pelo bem-estar dos outros. A empatia é a capacidade de sentir o que outra pessoa está sentindo, compartilhando suas alegrias, tristezas ou dores. Essa conexão emocional nos permite estabelecer um vínculo com o sofrimento alheio, despertando um desejo intrínseco de aliviar essa dor.
A Compaixão está ligada à regulação emocional. É necessário equilibrar nossa própria resposta emocional ao sofrimento alheio, para que possamos agir de maneira construtiva. A autorregulação emocional nos capacita a manter a calma em situações difíceis e responder com compaixão, em vez de sermos dominados pela frustração, tristeza ou raiva.
PROCESSOS COMPORTAMENTAIS: A compaixão não é apenas uma emoção passiva, mas também uma força motriz para ação. Ela se manifesta em comportamentos altruístas e na disposição de ajudar os outros. A coragem, a generosidade, a gentileza e o serviço desinteressado são expressões comportamentais da compaixão.
A tomada de decisão moral também desempenha um papel crucial nos processos comportamentais da compaixão. Quando somos confrontados com uma situação em que alguém está sofrendo, nosso senso de moralidade é ativado, e somos orientados a agir de acordo com nossos valores éticos.
Nesse sentido, a Compaixão pode ser considerada um ingrediente crucial para a Transformação Social. Ela estimula a ação, promove a igualdade, fortalece as comunidades e cria um ambiente propício para o bem-estar coletivo.
As Diferentes Formas de Compaixão
Paul Ekman, um renomado psicólogo no campo das emoções, apresentou em sua palestra “Darwin, Compaixão e o Dalai Lama”, uma perspectiva sobre as diversas facetas da compaixão.
Nessa palestra ele oferece uma visão geral sobre as diferentes formas de compaixão e explica porque cada uma delas é tão importante. São elas:
1- O reconhecimento de emoções: Saber como a outra pessoa está se sentindo. A maioria das pessoas não precisa ser ensinada, embora as pessoas com asperger, autismo ou esquizofrenia precisem. O reconhecimento das emoções é extremamente importante para as relações. Importante ressaltar que saber como você se sente não implica se vou tentar aliviar seu sofrimento ou aumentá-lo. Até um torturador precisa de reconhecimento emocional para alcançar seus objetivos. Mas se eu não sei como você está se sentindo, todo o resto perde a importância.
2- Ressonância Emocional: Paul Ekman distingue entre dois tipos de ressonância: Ressonância Idêntica, quando você sabe da dor de uma pessoa e você sente em seu corpo também.
Ressonância reativa, quando você sente empatia por outra pessoa por saber que ela está com dor e pergunta como pode ajudá-la.
Nem todo mundo ressoa: há motivos para acreditar que pessoas com personalidades antissociais não ressoam, mas são capazes de agir como se ressoassem, porque sabem que outras pessoas gostam disso, e isso permite que manipulem os outros.
3- A Compaixão Familiar: É a semente da compaixão, plantada por meio do vínculo cuidador-filho. Isso levanta questões muito interessantes sobre pessoas que foram criadas sem um único cuidador ou com pais que tinham um apego muito distante. A sua capacidade de compaixão está associada à maneira como você foi cuidado e o tipo de vínculo que você teve com seus cuidadores.
4 – A Compaixão Global: foi exemplificada pela resposta ao tsunami de 2004 no Oceano Índico. Pessoas de todo o mundo prestaram assistência a estranhos, de diferentes raças e cores de pele. Agora, sabemos que nem todo mundo tem – muitas pessoas agiram e muitas pessoas não. Como cultivamos a compaixão global? Considero esta uma das questões mais cruciais para a sobrevivência de nossos filhos e netos, pois o planeta não sobreviverá sem a compaixão global. Temos que tentar ver o que podemos aprender com quem tem esse treinamento.
5- Sentient Compassion é quando você estende sentimentos de compaixão para baratas, para qualquer ser vivo. Não sabemos se as pessoas que têm compaixão global têm compaixão senciente. Mas meu palpite é que se você tem senciente, você tem global. O Dalai Lama e Darwin concordam que a senciência é a maior virtude moral.
6- A Compaixão Heroica é como o altruísmo com risco. Ela tem duas formas:
Compaixão Heroica Imediata é quando, sem pensar, você pula nos trilhos do metrô para resgatar alguém. É impulsivo.
Compaixão Heroica Ponderada que não é feita impulsivamente; é feito com pensamento planejado e pode ser mantida por muitos anos.
Kristen Monroe, cientista política da Universidade da Califórnia, Irvine, fez um estudo sobre pessoas com compaixão heróica, e aqui estão seus critérios para isso:
1) você deve agir — não apenas pensar em como seria bom agir;
2) seu objetivo é o bem-estar da outra pessoa;
3) sua ação tem consequências para aquela pessoa;
4) há uma boa possibilidade de que suas ações diminuam seu próprio bem-estar – você está se colocando em risco;
5) e você não espera recompensa ou reconhecimento.